Felipe Duram

O Menino e o Sonho

Felipe Duram


Num tempo distante
Um lugar tão seu
O menino cresceu
Sonhando ser aviador

O tempo voou
O sonho ficou
E o menino não esqueceu
O ideal de ser feliz

Fez a malas e a coragem
Saiu de viagem
Deixou sua gente
Deixou seu país

Em outro continente
Desafiou o idioma
Buscou o diploma
E o ideal de ser feliz

De farda azul
De norte a sul
Cortou o véu do céu
De seu novo país

O sonho realizado
Um sorriso estampado
No envelope fechado
A fotografia

Mas o destino danado
Pregou-lhe uma peça
E o menino assustado
Apresentou se às pressas

E nas forças armadas
Se viu numa armadilha
Bombardear seu país
Matar sua família

E as mãos trêmulas no manche
Ouve ordem de revanche
De ódio e de dor
Seu campo de sonhos
É um campo de guerra, de horror

Com lágrimas nos olhos
Mira a montanha
Um rasante certeiro
Uma explosão tamanha

A fumaça suspensa
Um silêncio cortante
E tudo para e dispara
Por um instante

E até hoje a aldeia distante
Chora por seu menino
Preso na teia gigante
De um emaranhado destino