Clareou meu alvará de soltura Não vou sair num caixão de lata ou de fuga Não precisei esfaquear o estuprador E nem matar o maldito diretor Não fiz refém, a liberdade chegou Ei carcereiro, abre as grades, faz favor Não quero mais jumbo, conseguir a transferência Sem triagem, sem audiência 1-5-7, flagrante inafiançável Revólver, dólar, carro na bunda do advogado Mas tá limpo, hoje é festa de um homem só Que entrou ser humano, saiu monstro sem dó O sistema carcerário é fracassado e incompetente Transforma o réu primário em reincidente Só que comigo não! Vou ser diferente Foda-se seu banco, gerente Agora eu to livre, que Deus me livre do preconceito Sei o preço do erro e o tratamento pra ex-detento No Brasil, uma vez no sistema carcerário Pra sempre presidiário Sou prisioneiro do passado Eu tenho um rótulo na testa: Presidiário Acordei era tipo quatro e meia da madrugada Comprei jornal, preenchi ficha e nada Faxineiro, ajudante geral, o que vier Por um salário por mês, tô rezando com fé Sou ex-detento, é, cumpri pena O boy não deixa nem limpar o chão da empresa Talvez não saiba esfregar uma privada direito Saí da cela, mas não fujo do preconceito E que se foda se meu filho tá com fome A vaga foi preenchida, mas deixa aí seu telefone Sou ser humano também, só que reduzido A número pro Estado, a resto no lixo Candidato a mendigo do viaduto Bêbado jogado num bar, doente e sujo Depois a madame chora com a faca no pescoço É, e não quer o filho morto Emprego, confiança, ninguém dá pra você Depois é "por favor, não quero morrer" No Brasil, uma vez no sistema carcerário Pra sempre presidiário Sou prisioneiro do passado Eu tenho um rótulo na testa: Presidiário Vou fazer o que o sistema quer Roubar um carro importado, a bolsa de uma mulher Ser outro preso com a camisa na cabeça Enfiando um estilete no refém, sem pena Invadindo a mansão, dando soco na vadia Cadê o cofre? 1, 2, 3! É corpo na piscina Ninguém vê quando a luz de Deus brilha no processo Sem estudo, profissão, é sem sucesso Queria um trampo, recuperar o tempo perdido Mas esfregaram na minha cara meu artigo Deram motivo pra eu ficar pior Pra meter BO, descarregar sem dó Madame quando eu estiver matando o seu parente Por uma merda de relógio, se lembre Que aqui se cumpre penas em distritos Que em cela de 10, vivem 40 indivíduos Não tem cursos que nos reintegrem à sociedade Só triplicamos maldade atrás das grades Madame ajoelha, reze é adeus Cadeia não regenera e o problema é seu! Sou prisioneiro do passado Eu tenho um rótulo na testa: Presidiário