Fabiano Bachieri

Baio Kilero

Fabiano Bachieri


Trocava orelha meu zaino
Quando ganhei a canhada
O silêncio se atorava
Pelo sonido da espora

Parece que a pampa chora
Velando o baio estirado
E sobre as cruz do cavalo
Da ronda encurtava as horas

O vento embala a crinera
Como a brindar um galope
E a flauta dos pajonais
Tocam o cortejo da morte

O Sol imita uma hóstia
Sobre o altar da canhada
Toldo y viúvas pelas cercas
Silentes e enfileiradas

Se foi o baio kilero
Fazer sua última viagem
Arroz, fumo y quanto traste
Carregou, varando noites
Sem montura, nem açoites
Sem suas bolsas penduradas
Se foi o baio kileiro
Cruzar a última picada!

O pelo espera o sereno
Irmão de tantas jornadas
E as japecangas enredadas
Foram encolhendo os espinhos

O tecelão que fez ninho
Usando a crina do baio
Hoje falhou no trabaio
Tá manso, quieto e sozinho

Se foi o baio kilero
Despacio, num passo manso
Cruzou a milicada ao tranco
Que sempre andavam ligeiro

Não tem mais peso e arreios
Nem o olhar da milicada
Solito, junto a picada
Se foi, se foi o baio kilero!