Do sacramento pampeano Nasceu o livro sagrado, O crioulo apostulado Que a terra testemunhou, E minha alma forjou Nas contas do velho tempo, Os primeiros documentos Na escrita do pajador. Com o terço da guitarra E o sem fim dos descampados, Sobre o lombo do cavalo, Defini o dialeto Ao reforçar o trajeto Do primeiro cruzador Que emprestou sua dor Aos rumos do universo. Eu que fui , um cristiano Crucificado em guitarra, Jamais feri a palavra Do alfabeto dos fatos, Ao escrever cada salmo Acriolado de história, "esqueci o que foi ruím Pra seguir tendo memória". Lembro um amigo e irmão, Que morreu no meu costado, Feito eu um tigre alçado, Que à noite o instintoconduz, Se eu só lhe fiz uma cruz, Pois cruz carregou no nome, É que rezar não consome A imensa fome de luz. Me roubaram a claridade Nesta vida de desterro, Um cortejo de enterro Foi minha passagem na pampa, Minhas mortes foram tantas Que eu aprendi o segredo De pulsar ferro sem medo, Quando a foice se levanta. E afinal ressucitei Na biblia capa de couro, Eu, minha adaga, meu mouro, Meu evangelho, minha lei, Toda fronteira troquei Pela imensidão do verso E fui viver no universo Das almas que não tem rei.