O Cristo inerte preso à cruz A luz da vela que o reduz Á sombra triste na parede entrecortada Dos lábios solta-se indulgente A pressa inútil do não crente Entre palavras que por si não dizem nada Não fui eu Não fui eu Não deixei a porta aberta Não fui eu Não fui eu Ficou-me a casa deserta Ah como fugi do rumor De passos que no corredor Induzem na minha alma a dor da esperança vã Sinais do tempo a umedecer A voz que teima em enrouquecer E o corpo dorido pela noite no divã Não fui eu Não fui eu Não deixei a porta aberta Não fui eu Não fui eu Ficou-me a casa deserta Como esta febre me destrói Perdido amor quanto me dói Desceste em mil, cruel manto de tristeza Em cada noite morre o amor Que a solidão faz-se maior Mal amanhece e volta o medo que anoiteça Não fui eu Não fui eu Não deixei a porta aberta Não fui eu Não fui eu Ficou-me a casa deserta Não fui eu