Everton

Carta de Um Pai Ao Filho

Everton


Amado filho

O dia em que eu já não for o mesmo
Tenha paciência comigo e me compreenda

Quando eu derramar comida sobre minha camisa
E esquecer como amarrar meus sapatos
Tenha paciência comigo e se lembre
Das horas que passei te ensinando a fazer as mesmas coisas

Se quando conversar comigo
Repito e repito as mesmas palavras
E sabes de sobra como termina
Não me interrompas e me escute
Quando era pequeno, para que dormisse
Tive que contar-lhe milhares de vezes a mesma história
Até que fechasse os seus olhinhos

Quando estivermos reunidos e, sem querer
Fizer minhas necessidades
Não fique com vergonha e compreenda
Que não tenho culpa disto
Pois já não as posso controlar
Pensa quantas vezes pacientemente
Eu troquei suas roupas, te limpei
Quando menino te ajudei e estive a seu lado
Esperando que terminasse o que estava fazendo

Não me reproves porque não queira tomar banho
Não me chames a atenção por isto
Lembre-se dos momentos que te persegui
E os mil pretextos que tive que inventar
Para tornar mais agradável o seu banho

Quando me vejas inútil e ignorante
Na frente de novas tecnologias
Não sabendo mexer direito no computador ou no celular
Peço que me dê todo o tempo que seja necessário
E não me critiques com o seu sorriso sarcástico
Lembre-se que fui eu quem te ensinou tantas coisas
Comer, se vestir e andar
Isso foi o resultado do meu esforço e perseverança

Quando em algum momento, enquanto conversamos
Eu chegue a me esquecer do que estávamos falando
Tem paciência e não grite comigo e me ajude a lembrar
Talvez a única coisa importante pra mim naquele momento
Seja o fato de ver você perto de mim dando-me atenção

Se alguma vez já não quero comer
Saibas insistir com carinho
Assim como fiz tantas vezes contigo

Também compreenda que, com o tempo
Já não tenho dentes fortes e agilidades pra engolir
E você deverá por a comida na minha boca
Tem paciência comigo

Quando minhas pernas falharem
Por estarem cansadas para andar
E já não conseguir mais me equilibrar
Dá-me com ternura sua mão para me apoiar
Assim como eu o fiz quando começou a caminhar
Com suas fracas perninhas

Quando algum dia me ouvir dizer
Que já não quero viver e só quero morrer
Não te aborreças comigo
Algum dia entenderás
Que isto não tem a ver com seu carinho
Ou o quanto te amo

E compreenderás que é difícil
Ver a vida abandonando aos poucos o meu corpo
E que é duro admitir que já não tenho mais vigor
Para correr ao teu lado ou para tomar-te nos meus braços como antes

Sempre quis o melhor para você
E sempre me esforcei para que o teu mundo fosse mais confortável
Mais belo mais florido
E até quando me for terei deixado para ti
Outra rota em outro tempo
Mas estejas certo de está sempre presente no teu pensamento

Não se sinta triste, ou impotente por me ver assim
Não me olhes com olhar de pena
Dá-me apenas seu coração
Compreenda-me e me apoie
Como o fiz quando começaste a viver

Da mesma maneira que te acompanhei em seu caminho
Te peço que me acompanhe para terminar o meu
Dê-me amor e paciência, que te devolverei gratidão e sorrisos
Com o imenso amor que tenho por você

Atenciosamente

Teu Pai ou tua Mãe