Euler Ferreira

Debandada

Euler Ferreira


Já vai morrendo a tarde no espigão
E a andorinha levanta poeira lá no estradão
E só se ouve um alarde, a agitação
Da despedida ruidosa das aves de arribação

Onde andará, andorinha, onde andará
Aquela gente que há tempos vivia por lá?
Foi pra cidade, andorinha, o vento levou
Deixou pra trás o que um dia a vida legou

Não mais se ouve o ranger do carro-de-boi
E o moinho azangado, emperrado, não roda nem mói
O engenho, o monjolo, a baia, o paiol
Mais se parecem fantasmas perdidos sob o Sol

Adeus paineira, banguelo, inté ribeirão
Tchau mata-virgem, pinheiro, adeus terreirão
Eu vou-me embora daqui pra não mais voltar
Deixo pra trás minha terra, meu canto, meu lar

Andorinha foi-se embora
Debandou-se do sertão
Andorinha deixou casa
Terra, roça, criação