Eugénia Melo e Castro

Cobra-Aranha

Eugénia Melo e Castro


De manhã 
Pela manhã 
Chego de um sono profundo 
Acordo pró meio mundo 
Metade fica deitada 
Virada para o outro lado 
Fico de pé 
E parada 
Calada 
Colada sobre o teu corpo 
Separados por uma luz 
Acesa 
Dentro do peito 
Como uma ranha apanha a presa 
Surpresa no ar 
Suspensa por uma corda 
Silenciosa 
Enrolo a luz do meu olhar 
Devagar 
Sinto uma dor venenosa 
Sou uma cobra vaidosa 
Ganho sentidos a mais 
E ao sentir uma dor a menos 
Enrolo a luz no teu olhar 
Vais fixar o sol de frente 
Até ficares cego por mim