Quando eu era borregóte, na estância do Jaguarão Meu pai véio me acordava com a bainha do facão Me larguei pelo Rio Grande, lhe juro por esta luz Fazendo laço torcido com os fumos de Santa Cruz Fui peludo, fui taipeiro nos arrozais do Itaqui Curei uma peste braba lá nas termas do Iraí Na antiga Vila 13 eu fui guasqueiro de fé Gastei casco de cavalo nas tropas do Bororé Eu chibiei em Livramento, calavera não me embrulha Vendi canha e rapadura em Santo Antônio da Patrulha Ametista e Olho d'água eu conheço de verdade Aprendi com uma morena nás bandas de Soledade Eu sou do velho Rio Grande, tchê Eu sou do sul do país Manda acarcá uma vanera, que isto é marca de raiz Enquanto existir cordeona, só pra fazer chamarisco Com uma prenda na garupa, eu sou um gaúcho feliz No rincão do Itapevi eu tenho fama de ginete Deixei um bagual sem dente no rodeio de Alegrete Fui camelô na baixada, vendi tareco da China Lá pras bandas de Cruz Alta eu cantei numa cantina Lá nas dunas de Cidreira, eu cantei pra Iemanjá E já salguei o meu couro nas cavalgadas do mar Aprendi a colher jujo com as índias de Nonoai Peguei dourado de colher nas enchentes do Uruguai Nas tafonas de Osório eu garantia o pirão Nas minas de São Jerônimo quase estraguei o pulmão Amansei milhas de boi, picaneando em São Gabriel Vi um sino tocar sozinho nas torres de São Miguel Tirei couro em Turuçu, numa maleza sem fim Eu ginetiei um capicho na reserva do Taim Pras bandas de Horizontina, cantei na Festa do milho Num carnaval da Restinga, eu desfilei num tordilho Corri avestruz de tamanco, toquei cordeona de luva Tomei um barril de vinho, lá na tal Festa da uva Num rodeio em Vacaria, destrinchei uma barraca E amanheci com as gurias despenando uma curucaca Em São Lourenço do Sul, num baileco da Z 8 Deixei um bagual no escuro a tiro de 38 Eu sou carnal da fronteira, deixa assim porque tá feito Eu sou peão do Rio Grande e trago a marca no peito