Enquanto a tarde vai debruando seu azul no veludo barrento dessas margens, e eu vento desarruma a noite sobre as águas, escuta-se uma voz sensata, de timbre claro, vinda dos juazeiros, sancionando: Artigo I Fica estabelecido, por lei suprema, valendo por todos os séculos vindouros, que o desamor e o desprezo por essa ribeiras, e ao seu lençol de encardidas águas é um atentado a vida. Na ribeira deste rio Ou na ribeira daquele Passam meus dias a fio Nada me impede, me impele Me dar calor ou dá frio Vou vendo o que o rio faz Quando o rio não faz nada Veja os rastros que ele traz Numa seqüência arrastada Do que ficou para trás Vou vendo e vou meditando Não bem o rio que passa Mas só no que estou pensando Por que o bem dele é que faça Eu não ver que vai passando Vou na ribeira do rio Que está aqui ou ali E do seu curso me fio Por que se o vi ou não vi Ele passa e eu confio