São três artistas da rima São três rebentos do clima São três burdões numa prima São três massa em um pão São três sangue de irmãos nascidos dos mesmos primos Zé Lorota, Cirio e Dimas improvisando o quadrão Trago poema e o canto De uma herança carregados Lições de antepassados Que as levo pra todo canto Voz que traduz o encanto De quando a imagem se cria Passo a ver o que não via Reinvento essa memória Trago a força dessa história Em canto e poesia Foi de uma terra de poetas cantadores Do meu Pajeú das Flores que eu vim me apresentar Trago o meu verso que se solta da garganta Como um cantador que canta pelo prazer de cantar Foi dessa terra que eu vi brotar a semente Da força que a gente sente a hora de improvisar Eu sou raio que iluminou a parte Que louro cantou com a arte pro verso se clarear Do outro lado, no escuro eu sou a lua Pergunta as pedras da rua se Jó ainda vem cantar Régua roseira decantada por Maria O saiu do seu ninho procurando o sabiá Quem foi que disse Professor de que matéria Que no sertão só tem miséria, que só é seca e penar? Que é a paisagem da caveira de uma vaca Enfiada numa estaca, fazendo a fome chorar Não pode nunca imaginar o som que brota Da cantiga de uma grota quando a chuva cai por lá O cheiro verde da folha do marmeleiro E o amanhecer catingueiro no bico do sabiá Na caatinga não tem só mandacaru Tem coco e tem roda de verso, no Pajeú Na caatinga não tem só mandacaru Tem coco e tem roda de verso Tem mulumbu do vermelho mais vivo e puro E tem o verde mais seguro que tinge os pés de juá A barriguda mostrando branco singelo e a força do amarelo na casca do umbu cajá Na caatinga não tem só mandacaru Tem coco e tem roda de verso, no Pajeú Na caatinga não tem só mandacaru Tem coco e tem roda de verso Tem poesia e a força do pensamento de quem sabe improvisar Tem verso livre, tem verso parnasiano E mesmo longe do oceano tem galope a beira mar Na caatinga não tem só mandacaru Tem coco e tem roda de verso, no Pajeú Na caatinga não tem só mandacaru Tem coco e tem roda de verso Criou-se estima do matuto pé-de-serra Que tudo que fala erra porque não pode estudar Só fala versos matutos, obsoletos Feitos por analfabetos que mal sabem se expressar Na caatinga não tem só mandacaru Tem coco e tem roda de verso, no Pajeú Na caatinga não tem só mandacaru Tem coco e tem roda de verso Falam no sul com deboche que isso é cultura De só comer rapadura como se fosse manjá Saibam que aqui tem abelha de capoeira E que o mel da flor catingueira é mais doce que o mel de lá Na caatinga não tem só mandacaru Tem coco e tem roda de verso, no Pajeú Na caatinga não tem só mandacaru Tem coco e tem roda de verso Zefa Tereza me ensinou que pro Caboclo cair na roda de coco tem que saber rebolar Puxar um verso na roda que se balança E do movimento da dança fazer o coco rodar