Um ser humano igual a você, que assim como tu Tem sentimentos, pensamentos, sonhos, desejos e necessidades Sou igual a você, mas diferente por ser posto como inferior a ti Por esse teu orgulho e falso senso de grandeza e superioridade Não, eu não sou louco por falar sozinho Nesses momentos converso com a minha única companhia O único alguém que me enxerga como um ser humano: Eu mesmo Diariamente revirando lixos na esperança de encontrar A que provavelmente será minha única refeição na semana Aquilo que pra você era resto para mim é esperança Sentado na calçada, vejo seus olhares se desviando de mim Triste, percebo que sou invisível Em um estado lastimável Me encontro sem saída desse inferno renomeado como vida Incapaz de acabar com a própria existência Tento me manter em pé sem motivo algum Afinal, o amanhã não fará diferença Não há vantagem em ser invisível! Qual seria a sua reação ao me ver prestes a morrer na calçada? Que diferença faria a você, se ao passar por essas ruas e não me visse mais Atrapalhando a porra do seu caminho?! Me pergunto qual o real motivo De trazer herdeiros a esse mundo, a essa realidade Herdarão a minha fome, tristeza, revolta, fragilidade E um cobertor esburacado Um dia vazio está prestes a dar as caras Em alguns estantes serei expulso dessa calçada Para assim não expulsar a clientela dessas malditas lojas As ruas te mostram o que as escolas ignoram Como a frieza da sociedade e a tristeza de um povo esquecido O meu prazer e satisfação se encontram unidos Pedra e cachimbo que juntos me fazem esquecer Por um estante, o inútil que eu sou A cada esquina, encontrarão pessoas como eu Que também sentem frio, fome, falta de amor e a dor de estar só Sozinho faço das ruas o meu mundo, das estrelas o meu teto Do lixo o meu sustento e torço para que um dia eu possa ter o luxo De acreditar em sonhos novamente, antes que seja tarde demais