É afoxé do mangue Que espalhe meu sangue Pelo manguezal Tem gosto de muçambê Do cateretê Som de matagal Eu canto com alma sem descanso Não danço na corda sem bambar Minh’alma que ferve já não cansa Floresta não morre sem gritar Meu sangue derrama pelo tronco Com medo da morte se alastrar E o fogo que me queima por dentro Talvez seja tarde pra apagar Vem com baião de dois tem Té samba de roda, hein? Com tempero e sal Eu, hein? Na beira do rio tem Saci pererê bem lá da catedral Eu canto com alma sem descanso Não danço na corda sem bambar Minh’alma que ferve já não cansa Floresta não morre sem gritar Meu sangue derrama pelo tronco Com medo da morte se alastrar E o fogo que me queima por dentro Talvez seja tarde pra apagar [Roberta Estrela d'Alva] Que quando o fogo chega, a chama alastra e queima O mangue sangra, a boca seca, o povo insiste e teima E se debate, bate boca, bate ponto, sobrevive, mas ainda reina Em meio ao caos e a imundície, essa sede por justiça Que não passa, não é pirraça, desamarra essa mordaça E a mordida não é de graça, é só cachorro louco É só cobra criada que aprendeu a dar o bote Que entendeu que tá em jogo, que não dorme no barulho Que não leva desaforo É nego que não nega a própria raça E se o que está em jogo é lutar pela paz Sejamos Mandela, sejamos Racionais Pra pensar e cantar, coração em fúria Que é feita de sangue, mas também de sol Solidão e de fé e de dor De irmandade e amor, é por isso que eu vou E eu vou e eu vou