Estupidamente bela A beleza dessa Maria-sem-vergonha rosa Soca meu peito esta manhã! Estupendamente funda A beleza, quando é linda demais Dá uma imagem feita só de sensações De modo que, apesar de não se ter consciência desse todo Naquele instante não nos falta nada É um pá. Um tapa. Um gole Um bote nos paralisa, organiza Dispersa, conecta e completa! Estonteantemente linda A beleza doeu profundo no peito essa manhã Doeu tanto que eu dei de chorar Por causa de uma flor comum e misteriosa do caminho Uma delicada flor ordinária Brotada da trivialidade do mato Nascida do varejo da natureza Me deu espanto! Me tirou a roupa, o rumo, o prumo E me pôs a mesa É a porrada da beleza! Eu dei de chorar de uma alegria funda Quase tristeza Acontece às vezes e não avisa A coisa estarrece e abre-se um portal É uma dobradura do real, uma dimensão dele Uma mágica à queima-roupa sem truque nenhum Porque é real Doeu a flor em mim tanto e com tanta força Que eu dei de soluçar! O esplendor do que eu vi era pancada Era baque e era bonito demais! Penso, às vezes, que vivo para esse momento Indefinível, sagrado, material, cósmico Quase molecular Posto que é mistério Descrevê-lo exato perambula ermo Dentro da palavra impronunciável Sei que é desta flechada de luz Que nasce o acontecimento poético Poesia é quando a iluminação zureta Bela e furiosa desse espanto Se transforma em palavra! A florzinha distraída Existindo singela na rua paralelepípeda esta manhã Doeu profundo como se passasse do ponto Como aquele ponto do gozo Como aquele ápice do prazer Que a gente pensa que vai até morrer! Como aquele máximo indivisível Que, de tão bom, é bom de doer Aquele momento em que a gente pede pára Querendo que e não podendo mais querer Porque mais do que aquilo Não se agüenta mais Sabe como é? Violenta, às vezes, de tão bela, a beleza é!