A Carlos Drumond de Andrade Ele entrou em mim sem cerimônias Meu amigo seu poema em mim se estabeleceu Na primeira fala eu já falava como se fosse meu O poema só existe quando pode ser do outro Quando cabe na vida do outro Sem serventia não há poesia não há poeta não há nada Há apenas frases e desabafos pessoais Me ouça, Carlos, choro toda vez que minha boca diz A letra que eu sei que você escreveu com lágrimas Te amo porque nunca nos vimos E me impressiono com o estupendo conhecimento Que temos um do outro Carlos, me escuta Você que dizem ter morrido Me ressuscitou ontem à tarde A mim a quem chamam viva Meu coração volta a ser uma remington disposta Aprendi outra vez com você A ouvir o barulho das montanhas A perceber o silêncio dos carros Ontem decorei um poema seu Em cinco minutos Agora dorme, Carlos