Meu pequeno território Lugar onde eu vivia Nas margens do rio Tietê É minha velha moradia Contra a minha vontade Tive que vender um dia Por um tal valor venal Bem menos do que valia Eu fui desapropriado Tietê foi represado Acabou minha alegria Chegaram os engenheiros Das empresas de energia Foram fincando as balizas Fazendo a topografia E marcando as barragens Aonde que já previa Lá na varanda de casa Eu a tudo assistia Em pouco tempo fui vendo Tudo desaparecendo Conforme a água subia Larguei tudo de repente E fiz a minha mudança Viemos para a cidade Eu, a mulher e as crianças Moro na periferia Acabou a vida mansa O meu sítio embaixo d’água Não me sai mais da lembrança A mulher ainda chora Só fala em ir embora Vivemos sem esperança Eu olho e vejo a cidade Com todas as luzes acesas As indústrias trabalhando Gerando emprego e riqueza Movidos pela energia Da força da natureza A fonte que ilumina Toda esta redondeza Me faz lembrar com saudade A minha propriedade Sob as águas da represa Fiquei sem meu sitiozinho Mesmo com os meus protestos Vendi tudo o que eu tinha Fiquei sem nada, confesso Hoje eu moro na cidade Num bairro pobre e modesto Totalmente nas escuras Não tem luz nem no acesso De Sol a Sol, todo dia Trabalho de bóia fria Este é o preço do progresso