Quero que saiba o valor Da canção, se de boa cor Que elaborei com meu calor Neste mister eu levo a flor Ninguém me bate Irei prova-lo assim que for Dado o remate Conheço bem senso e loucura Honra e desventura Já senti pavor e bravura Mas se propõem jogo de amor Não fico atrás Escolho sempre o que é melhor Do que me apraz Conheço bem quem me quer bem E sei quem me quer mal também Quem ri de mim, quem me convém E se de mim se achega alguém Sei muito mais Como saber prezar a quem Prazer lhe faz Bem haja aquele de onde vim Pois que soube fazer de mim Alguém tão bom para esse fim Que eu sei jogar sobre o coxim De qualquer lado Não há ninguém que o faça assim Por mais dotado Bendigo a Deus e a São Julião Por tão bem cumprir a missão E jogar com tão boa mão Se alguém precisa de lição Que venha logo As que vierem voltarão Sabendo o jogo Chamam-me “o mestre sem defeito” Toda mulher com quem me deito Quer amanhã rever meu leito Neste mister sou tão perfeito Tenho tal arte Que tenho pão e pouso feito Por toda parte E não me digam que isto é prosa Ainda outro dia tive a prova Jogando uma partida nova Saí-me bem no meu primeiro Lance de dados Não vi os de nenhum parceiro Tão bem jogados Mas ela disse com desprezo “ Os vossos dados não têm peso Vos desafio a uma outra vez E eu: “ Montpelier não vale o preço Destes pedaços” E ergui-lhe o avental xadrez Com os dois braços Depois de erguer o tabuleiro Joguei os dados Dois foram cair colados E o terceiro Feriu no meio tabuleiro E estão lançados