[A saudade picaneia Esta alma carreteira Quando a marcha rechineira Traz de regalo esta cena Que vem sangrando a coxilha Duas juntas de boi mansos, Qual um barco no remanso Cortando a água serena] Toldo de couro pampeano Que templou chuva e mormaço Pelecha agora ao cansaço Contra o cargueiro dos anos Cruzou passos e atalhos Pelos rincões da fronteira Mais rijo que a pitangueira Que forja teu cabeçalho Rangendo eixo e buzina, Navegou pelas canhadas Orando a prece da estrada Acalentando a minha sina Tua canga de coentrilho Sobre a junta se embalava Feito bússola apontava Os campos do espinilho (Mateando no meu galpão Miro a trempe carreteira Que cinchava a chaleira No crioulo fogo de chão Recordo das carreteadas Do velho tempo que foi-se E arrebento as cordas-do-coice Da carreta do coração) [Junto ao umbu solitário Espera rente ao palanque Pro nosso último arranque No traçado itinerário Saio de São Gabriel Com a minha junta de brasinos E lavro a casco meu destino Pra carretear lá no céu] Nos pousos e acampamentos Recostado ao teu rodado Bombeava o céu estrelado Povoando o firmamento Com os bois no pastoreio E o meu pingo de sentinela Ouvia o chiar da panela Cozinhando um carreteiro No ermo das madrugadas Foste o ninho romanceiro Deste amante carreteiro Nestas terruñas jornadas E nas ressolanas grongueiras Com o muchacho ancorado O recavém dava o sombreado Pra minha séstia veraneira (Mateando no meu galpão Miro a trempe carreteira Que cinchava a chaleira No crioulo fogo de chão Recordo das carreteadas Do velho tempo que foi-se E arrebento as cordas-do-coice Da carreta do coração)