Eu vinha de Mato Grosso Montado no meu Picaço Lenço branco no pescoço E cem léguas de cansaço Quando eu vi a Madalena Debruçada no terraço Esqueci de minhas penas E o cavalo do seu passo A madrinha ia adiante E a culatra retirada Repiquei o meu berrante Pra reunir a boiada Percebi que minha sina Estava ali rodilhada Como a cascavel traiçoeira Armando sua laçada O sol ia se escondendo A boiada num bagaço Na campina foi parando Que nem mosca no melaço Olhei de novo a morena Na distância do meu laço Meu coração nessa hora Bateu fora do compasso Fui dizer adeus pra ela Foi o meu pior momento Perguntei se ela queria Me aceitar em casamento Me respondeu com desprezo Foi grande meu desalento Virei o macho na espora Num triste aborrecimento Sou boiadeiro de fama Com nada me embaraço Mas essa mestiça arisca Desviou meu tirão de laço Depois daquele abandono Pra mim o mundo morreu Eu nem sei aonde ponho Este amor que Deus me deu Meu Picaço anda tristonho Da boiada se esqueceu Nunca mais vi a cabocla Perdi tudo que era meu