Minha infância foi marcada por ausência de alegria Meu pai muito trabalhava porém nada possuía A pobreza nos rondava, com trapos eu me vestia Vira e mexe eu apanhava pelas artes que eu fazia! Com os pezinhos descalços Enfrentava os percalços Que a vida oferecia! Eu voltava da escola pertinho do meio dia A panela de feijão no fogo ainda fervia Mamãe servia o almoço bem ligeiro eu comia Preparava isca e vara, rumava pra pescaria Peixe, farinha e verdura Quase sempre foi mistura Que a família consumia! No varjão muitos preás com bodoque eu abatia Na mira da cartucheira a caça sempre morria Às vezes jogava bola, do campo logo saía Tinha um gênio enfezado, com todos eu discutia Eu era de pouca prosa Uma lama revoltosa Apanhava e batia! Em noite de São João da minha casa eu fugia Me escondia no moitão e uma fogueira acendia Ficava mirando estrelas que lá no céu reluzia Apanhava algum balão que acaso ali caía Eu só voltava pra casa Depois que a última brasa Naquela cinza sumia! Quando chegava o Natal meu peito se contraía É que mestre Nicolau de mim sempre esquecia Brinquedos eu não ganhava comprar papai não podia Só mamãe me consolava, me tirava da agonia Na retina da razão Ficou gravada a lição Que Jesus também sofria!