Eu morrei numa fazenda que mais feia não havia Era uma furna de serra que de cerração cobria Só depois das noves horas que o Sol aparecia E pra onde a gente olhava só montanhas que se via Lá pras bandas do poente Como sufocava a gente quando a tardinha caia O lugar era assombrado, minha mãe sempre dizia Que certas horas da noite um gemido se ouvia Era um raiar tão triste que no quintal se expandia Minha mãe ao se lembrar que ao contar se arrepia Não tinha vizinho perto Veja que lugar deserto, vejam que só Deus é que sabia Não muito longe de casa um piquete existia Onde meu pai conservava as nossas vacas de cria Era preciso cuidado quando um bezerro nascia Devido ter muitos lobos por aquelas cercanias Lembro-me bem como era O uivado dessas feras na solidão se perdia Eu era ainda criança quase pra nada servia Mas tirava doze e meia na enxada todo dia O meu joguinho de malha era o que me entretia Até que meus pais mudaram era assim que eu vivia Hoje eu moro na cidade Mas recordo com saudade minha velha moradia