Ontem, ao luar, nós dois em plena solidão, tu me perguntaste o que era a dor de uma paixão. Nada respondi, calmo assim fiquei, Mas, fitando o azul do azul do céu, a lua azul eu te mostrei... Mostrando-a a ti, dos olhos meus correr senti uma nívea lágrima e, assim, te respondi. Fiquei a sorrir por ter o prazer de ver a lágrima nos olhos a sofrer. A dor da paixão não tem explicação, Como definir o que eu só sei sentir. É mister sofrer para se saber o que no peito o coração não quer dizer. Pergunta ao luar, travesso e tão taful, de noite a chorar na onda toda azul. Pergunta, ao luar, do mar à canção, qual o mistério que há na dor de uma paixão. Se tu desejas saber o que é o amor e sentir o seu calor, o amaríssimo travor do seu dulçor, sobe um monte á beira mar, ao luar, ouve a onda sobre a areia a lacrimar. Ouve o silêncio a falar na solidão de um calado coração, a penar, a derramar os prantos seus. Ouve o choro perenal, a dor silente, universal e a dor maior, que é a dor de Deus. Quando Jesus, meigamente solitário, lá no cimo do calvário, seus olhos, indulgente, erguia aos céus, quanta dor, quanta poesia, a penar, nos seus olhos luz luzia, a meditar Não era a dor de não ter esse poder de remir a humanidade da eterna atrocidade do sofrer Era, sim, a crúcea pena de sentir por Madalena o coração desfalecer. Se tu queres mais saber a fonte dos meus ais, põe o ouvido aqui na rósea flor do coração, ouve a inquietação da merencória pulsação... busca saber qual a razão por que ele vive, assim, tão triste a suspirar, a palpitar, em desesperação, a teimar, de amar um insensível coração, que a ninguém dirá no peito ingrato em que ele está, mas que ao sepulcro, fatalmente, o levará.