O meu chão Frio azulejo, piso rústico vermelho lascado Descascado pelo tempo pelos muitos pés que o pisaram Essas lajotas geladas Assentadas sobre o chão Por alguma mão calejada Que construiu muitos outros chãos Sem que de fato os pudesse habitar Poderiam ter sido as mãos do meu avô Esse chão que piso Donde imagino que dos meus pés Saem profundas raízes É um chão que tem sido meu Que acolhe os móveis de madeira Que também aprendi a construir É o chão que foi um dia de terra E que hoje me recebe A mim, ao meu amor, aos rebentos Esse chão não é nosso Ao mesmo tempo que é Porque essas mãos calejadas Que conheceram esse chão Ainda como terra Vermelha, marrom, solta ou batida E que a manusearam Poderiam ter sido as mãos do meu avô Do meu pai, do meu irmão Esse chão só é meu porque Seus verdadeiros donos Estão em mim de diversas formas E quando imagino minhas raízes Fincarem na terra Se aprofundarem grossas e fortes Também as sinto caminhar E após longos caminhos De terras coloridas, águas, pedras Barro endurecido Até encontrar outras raízes Essas que nos unem Nos fazem iguais E que quando se encontram Fazem nascer troncos, outros galhos, outras folhas Ou quem sabe Flores!