- hoje os van gogh/são os laudos da necropse/ - expostos no museu da sorte/onde os meus sonhos se dissolvem/ Ritual minucioso o céu escureceu// De bisturi nas mãos outro sonho faleceu// Um dia só de paz, jow, eu sei você não vê// Quando cê enxergar a terra vai corroer// Quantos sonhos vi morrer, foram assassinados// Não só pelo estanho que vem no oitão cromado// Pesado é para, sentar e refletir// E ver que vários sonhos nem chegaram a u.t.i// Se o fim justifica os meios então deixa// Eu tentar encontrar algo que me esclareça// Sobre a mesa fria, fluorescente iluminando// E eu investigando a causa de tantos prantos// Não ostentei o banco, queria tá na área// Com a camisa 10 fazendo meu gol de placa// Mas não tive a caixa enfeitada como sonhei// No aniversário de 10 anos dia 12 do mês 03// -sonhei com a vida, sem ter meus sonhos congelados/ -sem um bisturi do lado/sem ver corpos costurados/ -sei que a justiça, aqui não traz alívio/ -não impede os tiros/nem os enterros coletivos/ Verdes campos, leve brisa, sinto o cheiro do mar// Dentre jardins com flores me vejo caminhar// Desperto atordoado, desconforto incômodo// Triste ao perceber que não passara de um sonho// Ouço disparos ao longe, já é cotidiano// Mais uma alma que sobe outro corpo agonizando// Frustrado, me pergunto por que a vida é assim// O egoísmo é a venda só deixa pensar em mim// Escapar dessa realidade sei que a chance é mínima// Uma em um bilhão mais difícil que loteria// Crueldade aqui é mato, já vi e vivi// Milagres não acontecem é golias que esmaga davi// Tristeza é a única coisa que a vida traz// Sonhar é a única forma de ter um pouco de paz // -sonhei com a vida, sem ter meus sonhos congelados/ -sem um bisturi do lado/sem ver corpos costurados/ -sei que a justiça, aqui não traz alívio/ -não impede os tiros/nem os enterros coletivos/ Na terra infértil a semente não germinou// Quem dava a proteção hoje espalha o terror// Ver que o mundo era mais belo provoca nostalgia// E por aqui sobreviver ta mais difícil a cada dia// Pulsação diminui, as pálpebras vão fechando// O corpo já exaustado e a circulação travando// Aquele em cova rasa abaixo de um palmo de terra// Era só mais um que sonhava com o fim da guerra// Eu só queria entender o porquê da morte prematura// Eu só queria não temer mais a noite escura// Ajuda conforto, a quem vou recorrer// Se no nascer do sol outro sonho vai padecer// Eu sei ninguém quer ser o legista desse morgue// Ninguém quer despedida jogando o buquê de flores// Se as dores não cessarem, ao menos derem uma trégua// Amanhã tem necropsia nem que seja a luz de velas// -sonhei com a vida, sem ter meus sonhos congelados/ -sem um bisturi do lado/sem ver corpos costurados/ -sei que a justiça, aqui não traz alívio/ -não impede os tiros/nem os enterros coletivos/ Não quero mais, ter que ver meus sonhos abertos; Não quero me acostumar com o frio do necrotério; Sonhei com a vida, sonhei com a vida, sonhei com a vida... Sem flores na despedida...