Com licença, eu vou entrando Mesmo sem ser convidado É que, em meu pago, um assado É de ninguém e é de todos Eu vou cantar a meu modo Depois de ter churrasqueado Não tenho Deus pra pedir Quarteada nesta ocasião Nem posso pedir perdão Se até aqui não pequei Quando acabar, aí verei Mas esta é outra questão Eu sei que muitos dirão Que peco no atrevimento De soltar meu pensamento Pra um rumo que já escolhi Mas, sempre assim, procedi Galopeador contra o vento Isso já vem no meu sangue Geração a geração Gente com os pés no chão Foram meus antepassados Crioulos de quatro províncias E com índios misturados Meu avô foi carreteiro O meu pai foi domador Nunca se chamou doutor Porque com jujos saravam Ou, pra curar-se, escutavam Un estilo de mi flor Não faltava ao rancho crioulo Uma viola pendurada Quem visse, não dava nada Mas, conforme o canto e hora Botava sua voz pra fora Deixando a alma sovada Meu pai era sabedor Por tanto haver caminhado E, depois de ter cantado Afrouxava quarta e prima E botava um poncho em cima Pra não falar demasiado As razões que o sangue guarda Fazem engordar as veias Que de dor vão sendo cheias Até transbordar em grito A areia é um punhadito Mas há montanhas de areia