Eu sou do norte e do sul Do campo e do litoral E ninguém me leve a mal Porque há mil gramas no quilo Se me deixam, sou tranquilo Se me encilham, sou bagual Um cantor deve ser livre Pra desenvolver sua ciência Sem procurar conveniência Ou proteção de padrinhos Desses escuros caminhos Já tenho a minha experiência Os meus cantos, por antigos Já chegam a ser eternos E até parecem modernos Pelo que neles guardamos Com o canto nos tapamos Para amornar os invernos Não canto a nenhum tirano Nem por ordem de patrão O falso e o espertalhão Que se arregrem por seu lado Com pajadores comprados E cantores de salão Pela força de meu canto Já fui golpeado muy duro E conheço o mundo escuro Das cadeias e das celas Porque fui jogado nelas Como lixo no monturo Pode-se matar um homem Ou o seu rosto manchar Seu violão chamuscar Mas, o ideal que ele tenha Esse é seca e buena lenha E ninguém há de apagar Vão os maulas levantando Tudo que acham pela frente Quais grãos de milho essa gente Semeia os piores exemplos E botam abaixo o templo Do país limpo e decente O ouro junta os malevas Feito rodeio em fazenda Não há vil que não se venda Por qualquer sujo tostão Mas não faltará a este chão Gauchada que o defenda