Não sei se meu canto é lindo Ou se soa meio triste Não sou sábia nem existe Bichito mais ordinário Sou o pássaro corsário Que não conhece o alpiste voo porque não me arrasto Porque, se arrastar, amesquinha Aninho em planta que espinha Ou sobre uma cordilheira Sem escutar as besteiras De quem voa igual galinha Não me chego assim no más A esses jardins floridos Sem querer, vou prevenido Pra não pisar no palito [pala] Há pássaros que, solitos Se arapucam por metidos Por mais que tenha sofrido Não me acorrenta a prudência É uma falsa experiência Temer a tudo e a todos Cada qual tem o seu modo A revolta é minha ciência Pobre nasci e pobre vivo Por isso sou desconfiado Estou com os do meu lado Cinchando todos parelho Pra fazer novo o que é velho E ver o mundo mudado Eu pertenço à multidão Não sou de estufa ou viveiro Sou como o trevo campeiro Cresço sem fazer ruído Contra os pastos espremido Pra aguentar o pampeiro Acostumado a estas serras Ninguém há de ver me enjoar Quando querem me gabar Vou indo devagarzito Não sou como compadrito Que só quer ver-se adular Se alguém me chama: Senhor Agradeço, mas... Qual nada Sou peão entre a peonada Entre sábios sou ninguém E a mim ataca alguém Que atacar a gauchada É planta ruim a vaidade Que envenena toda a horta Aquele que a quiser morta Fique alerta no enxadão Mas não falta o cidadão Que a rega até em sua porta É coisa boa o trabalho É, na vida, o maior bem Mas perde sua vida quem Só lida alheio torrão Faz a parte do torrão E, pra outro, a chuva vem