Delvnny

Asas Cortadas

Delvnny


Noite de festa, final de semana, como de costume
Só mais um peixe, normalmente, seguindo o cardume
Todo de roupa cara, grife, perfume importado
Mais nada importa
Bate a porta
E já sai apressado

Trabalha o dia todo sempre pensando na sexta
Só pra sair, se divertir, sem nem se preocupar
Ele diz que com dinheiro todo mundo te respeita
E sente que não tem nada que não possa comprar
Visão errada, irmão, amigos dizem
Ele ignora, finge que eles não são ninguém
Me deixa quieto, quero aproveitar a vida
Vocês só falam isso porque sabem que eu tô bem
Cheio de vícios, porém um é o principal
Uns dizem que é maléfico, ele diz que é normal

Álcool, combustível de mortes e traumas
Os goles que te curam afogando sua alma
De novo a grana vai cair e ele vai gastar
Bebendo litros e mais litros em qualquer lugar
Ganância que aumenta a ânsia de nunca parar
Tirando dele a claridade de poder pensar
Sai da garagem com a moto muito animado
O sorriso no rosto dele nunca se dispersa
Com o tanque cheio igual os bolso de nota lotado

Vento na cara, madrugada, sua última festa
E no caminho vai notando os olhares do povo
De um lado mulheres, do outro os invejoso
Talvez seja só pelo brilho do relógio novo
Ele diz que o sucesso dele neles causa nojo
Chegando lá vê os amigos na porta da festa
Eles entram com um destino; rumo ao camarote
Entre a fumaça ele avista aquele bar de longe
Dai pra frente não foi culpa da falta de sorte

Primeiro gole, tudo bem, ainda tá normal
Na roda de amigos, nada de diferente
Apenas observa o redor de onde ele tá
Seu semblante de dúvida nunca é aparente
Se lembra da família, sua mãe e seu pai
De como era tratado, sem amor nem carinho
E bem nesse abismo de lembranças que ele cai
Encontra seu refúgio dentro de um litro de vinho
Seu pai era alcoólatra e sempre o maltratou
Batia na sua mãe mas ela nunca revidou

Apenas descontava no filho que desprezava
Ele cresceu tendo que suportar surras dobradas
Tristeza bate, invade o âmago do ser
Vozes sussurram ordens, ele não vai hesitar
Infância desmontada que não pediu pra viver
Agora ele se consola em litros de vodca
Perdido no momento, luzes e confusão
E a dúvida que não passa, por que não se sente bem?

Sozinho no chão da festa, todos foram embora
Agora que tá sem grana, com ele não tem ninguém
Na multidão, se esbarrando em todo mundo
Cambaleando até a saída da festa
No estacionamento ele sobe na sua moto
E arrancando ele sai com o suor caindo da testa
Voando no asfalto em alta velocidade
Como se sua alma fosse pura adrenalina
Cheio de pensamentos, confuso com o seu passado
E a ordem do futuro pra ele não era linda

Se desfazendo em lágrimas, ânsia de vômito
Saudade do que não teve, tentando suprir um vazio
Iria ser mais humilde e com o vício ia parar
Jurava para si mesmo mas o destino interviu
Sua visão embaçava, seu controle se esvaia
Diante a consequência não se pode ser tão forte
A pedra no seu caminho que trouxe sua agonia
Foi uma horrível batida de frente com aquele poste
Mais um
Que morre por culpa do próprio mal
A morte se levanta e vem buscar outra alma
Que só queria ser livre e voar pelo mundo afora
Mas a ganância e o álcool cortaram as suas asas