Não fales que o som da tua voz me enternece E só o que eu não quero agora é ternura Enquanto durar esta ausência me esquece Que a vida é a vingança que a gente padece Ou cura ferindo, ou mata na cura Eu hoje só quero sem mágoa nem zanga O canto perdido daquele sabiá Que em pleno novembro buscava a pitanga E um dia sumiu numa curva da sanga Fazendo correr o meu choro de piá Há tantos invernos carrego um segredo Que morro de medo, de angústia, sei lá De ver a esperança voar campo afora E um dia cansada de tanta demora Desaparecer como aquele sabiá Por isso não ouse surgir de repente Não sejas presente, que ausência é meu chão Pois eu sou um daqueles que a vida inclemente Maltrata e devora, e depois simplesmente Vai ver que era feito de alma e canção