Lá no porão do meu nono nós brincava à revelia Lugar de pura vida e cheio de alegria Sempre com muita fartura pois lá de tudo se tinha O porão do meu nono é relíquia da vida minha Tinha leite, tinha queijo, torresmo, salame e vinho Vinagre de uva, ovo, banana, moranga e ninho De galinha e de rato saco de rafia e de estopa Tinha bota tinha roupa de ir pra roça de ir pra lida Quanta coisa no porão lindo armazém da minha vida Milho corda palha e facão martelo prego e navalha Parolo para polenta rede tarrafa e caniço Tinha morcilha e chouriço tinha o tacho o panelão Tudo tava no porão me lembro muito bem disso Balaio melão abóbora xuxu tomate pimenta Feijão pipoca manguá e a saudade só aumenta De quando o nono descia pra buscar um melancia E tão logo ele subia com a mais doce e suculenta No porão que eu brincava tinha sal tinha mandioca Açúcar pinga em garrafão e tudo pra velha carroça Lugar lindo e abençoado de chão batido e de pedra A infância foi só riqueza alicerce que não se quebra Tinha canga e pelego cabeçaio cunha e mola Roda arado isopor carne seca banha em lata Chapéu tesoura candiero liquinho mel e gaiola Arapuca ratoeira muito saco de batata De tudo que era qualidade semente ali se guarda Esfregão porongo e chá, barra de gelo e serragem Ali se guardava a nata e outras coisas da cidade Que pudessem estragar e tinham prioridade Era assim a geladeira sem ter eletricidade No porão lá do meu nono sacol copa e linguiça Aromas inconfundíveis que a saudade mais atiça A pipa o barril de vinho canzil boçal saraqua Soiteira couro curtido caneco veio retorcido, que água na boca me dá Tarro de leite pavio e fumo ferro a brasa pra passar Garrafa velha litro de óleo querosene pra queima Liquinho funil e a estrada era só atravessar Pra tomar um banho de rio o que saudade que me da Bem na frente da entrada tinha um pé de sarandi Sua sombra e seu perfuma sinto hoje ainda aqui Não tive em lugar mais calmo que o porão la do meu nono Repleto de coisa boa era o armazém do colono Alegria e aconchego como os braços do seu dono Tudo que se precisava estava a disposição Era só descer a escada e buscar la no porão A gente ali brincava era pura diversão Minha mente se alegra se alegra meu coração Minha alma se entrega e voa na imensidão De lembranças de riquezas de valores e então Do meu nono abrindo a porta e nos chamando pro porão A palha a linha, o cabo o prego sempre duplo a garantir Agulha de ferro antigo seu rosto sempre a sorrir Seus causos e sua voz em minha memória ecoa Enquanto ele trabalhava nós ficava ali à toa Aprendendo e observando meu Deus quanta coisa boa Daquele porão saíram as mais famosas vassouras No porão tinha de tudo eu me lembro bem e como Mas a melhor coisa que tinha riqueza da vida minha Era você amado nono