O dia subiu sobre a cidade Que acorda e se põe em movimento Um despertador bem barulhento Badala, bem dentro, em meu ouvido Levanto, engulo o meu café Corro e tomo a condução Que, como sempre, vem cheia, Anda, para e me chateia Está quente pra chuchu, Meu calo dói, A certeza já me rói, Levo bronca do patrão Mas, sonhei E fiz a fé no avestruz Que vai me dar uma luz Levo uma nota pra mão A tarde transcorre calma e quente Nas ruas, ao sol, fervilha gente Batalham, como eu, o leite e o pão Que o gato bebeu e o rato roeu Aumenta tudo, aumenta o trem Aumenta o aluguel e a carne também É... mas, sei, vai melhorar Pior que tá não dá pra ficar Ah, meu deus, Se o avestruz der na cabeça Vou ganhar dinheiro à beça, Faço minha redenção E vou lá dentro, No escritório do patrão Peço aumento, ele não dá, Mostro a grana e a demissão A noite desceu sobre a cidade Nas filas, calor suor cansaço Meu corpo está que é só bagaço E se está de pé é de teimoso Eu, desejando minha cama Furam a fila e alguém reclama: Louvaram a mãe do rapaz Que diz que faz e desfaz E só falta uma briguinha E eu ir para o xadrez Pobre não tem mesmo vez Não dá sorte ou dá azar E o danado do avestruz Também não deu Minha mulher vai reclamar O dinheiro que era seu E o danado do avestruz Também não deu Minha mulher vai reclamar O dinheiro que era seu Que o gato comeu O rato roeu Alguém se lambeu