Aiaiaiai Aiaiaiai oô Aiaiaiai Aiaiaiai oô Mesmo antes de morrer Já sinto falta Daquilo que não vou deixar Isso não é medo, é só Por saber que dá Que tá marcado Encontro comigo na lua Que mora no fundo do mar Eu estou contigo Mas já tô cansada De tanto esperar Se compro fiado Deixo pendurado É só pra ti me provar Pra mim que eu consigo Viver desse jeito De um jeito, sei lá Vá viver, só vá Ser o que quiser Quando o fim chegar Tu vai tá aí Sem tutu pra papar Some um trabalhador Aiaiaiai Aiaiaiai oô Aiaiaiai Aiaiaiai oô Aiaiaiai Aiaiaiai oô Aiaiaiai Aiaiaiai oô Jogado no mundo Sem rumo, sem fundo Sem onde chegar O mundo é um monte De gente carente Mas deixa eu falar Un poco rey Do que sou bro Quando acordar Tu vai tá aí sem tutu pra papar Morre um trabalhador Aiaiaiai Aiaiaiai oô Aiaiaiai Aiaiaiai oô Aiaiaiai Aiaiaiai oô Aiaiaiai Aiaiaiai oô Vai daqui, lobo ardiloso carniceiro Lebre manca, dom desterro Livra o mundo, rasga o pano Move a mola, meia o fogo A coisa é pouca, o povo à toa Nasce a moda, o pop enjoa A vida cansa, o som descansa O povo pega a manobra A massa vira mão de obra O feitiço mata cobra Seriema do Estado Faz que bate, representa Nega o peito, mama a fama Vê o sol nascer dopado na lida sem cor Morre a preta e o amor Aiaiaiai Aiaiaiai oô Aiaiaiai Pow pow pow pow pow Conseguiu contar? Nem Roberto de Souza Cento e onze tiros para cinco adolescentes Comparando isso ao intervalo Dos minutos que marcam o genocídio Do povo preto, há! Cês gostam é de numero, né? Trabalham com estatística Mas na favela pra gente sobreviver Temo que ficar na risca No país onde ser preto é crime Rafael Braga sabe bem disso Ou quem sabe Amarildo Que até hoje anda sumido Na sala de aula morre Maria Eduarda Muda o bairro que não é nem um pouco nobre E dentro da escola mais uma criança morre Cês chegam pro menor que pede esmola E lança logo um: Ah moleque, vai pra escola! Mas é facinho vocês falar, né? Esbanjando privilegio de ensino particular A trilha sonora do gueto Não é rap Tiro pro alto, preto no chão Mas vida que segue Exercito no morro, criança revistada As mães pedindo socorro Vendo seus filhos jogados na calçada Tanque de guerra pintado de branco Opa, avermelhou! Sangue de preto num camburão Em cima do capô, periferia gritou E se Zumbi tivesse se conformado Em ser escravo Qual seria o nosso estado? E se os quilombos não tivessem sido criados Qual seria o nosso estado? Pretos jogados na lama, sim À mercê do Estado Pérolas jogadas aos porcos Não jogaram rancor Mas hoje transformamos em ódio O que era dor Pare e repare nessa rebelião Que a cada ataque às minorias É o inicio da revolução! E só pra lembrar Que a justiça, ela não é cega Ela é daltônica Marielle presente!