Quando a saudade nos fala e em nós se faz tarde Quando a ternura nos despe e os corpos se prendem Abrem-se luas antigas, vozes de sombra e de rosas Arde connosco esse canto que todos entendem Canto que nasce do peito e de mãos na guitarra Distância da lágrima ao riso na voz de vadios Canto de branco e mulato, canto do cais ás colinas Distância do fundo da noite ao convés dos navios Chamem-lhe prece, pregão ou canto de aflitos Destino ou voz do meu povo Seja o que for será sempre um suspiro na noite Um verso velhinho vestido de novo Chamem-lhe grito de amor ou cantiga de amigo Destino ou voz do passado Na noite de xaile preto acorda-se a fala E bate este meu coração quando se canta o fado Canto de voz marinheira a sós com mar alto Canto de amor e enganos na voz da cidade Luz de candeia em tabernas, foi luz de altar nas janelas Subiu do porão da noite ao convés da saudade E quando a andorinha se cala na asa da noite Quando as estrelas acordam e a terra descansa Junta-se a plebe aos fidalgos, ouvem-se vozes sem sono Que falam de queixas de amor, mas também de esperança