Cristina Nóbrega

Voz Marinheira

Cristina Nóbrega


Quando a saudade nos fala e em nós se faz tarde
Quando a ternura nos despe e os corpos se prendem
Abrem-se luas antigas, vozes de sombra e de rosas
Arde connosco esse canto que todos entendem

Canto que nasce do peito e de mãos na guitarra
Distância da lágrima ao riso na voz de vadios
Canto de branco e mulato, canto do cais ás colinas
Distância do fundo da noite ao convés dos navios

Chamem-lhe prece, pregão ou canto de aflitos
Destino ou voz do meu povo
Seja o que for será sempre um suspiro na noite
Um verso velhinho vestido de novo
Chamem-lhe grito de amor ou cantiga de amigo
Destino ou voz do passado
Na noite de xaile preto acorda-se a fala
E bate este meu coração quando se canta o fado

Canto de voz marinheira a sós com mar alto
Canto de amor e enganos na voz da cidade
Luz de candeia em tabernas, foi luz de altar nas janelas
Subiu do porão da noite ao convés da saudade

E quando a andorinha se cala na asa da noite
Quando as estrelas acordam e a terra descansa
Junta-se a plebe aos fidalgos, ouvem-se vozes sem sono
Que falam de queixas de amor, mas também de esperança