Cristian de Freitas

Recado da Esperança

Cristian de Freitas


Um dia uma esperança me falou
Que as coisas nesse mundo são escuras
E aquela esperança me aconselhou a ver
O mundo com os olhos de uma criança
Então, fechei meus olhos sem dormir
Sonhei com um vento azul a me soprar
E de repente vi que a paz inteira estava lá
Esperando pra namorar o mar

A paz tinha os cabelos cacheados
E a pele tão morena, nitidez
E os olhos eram feitos de corais
Que mudavam o tipo todo o mês
E desde aí então, meu pensamento
Ficava esperando algum amor
Na praia do tempo eu me afoguei
Morri de vez entregue ao teu frescor
Acendes a fagulha solitária
E prende-me completo em sua dor

A chuva que ontem molhava a terra
Fez-se brotar em mim mais bela flor
De todo o meu passado revivido por aqui
Não me recordo quanto tempo foi
Só sei que não se sabe quem ficou ou foi daqui
Vestindo a cara preta de um boi valente
Meu intelectual fora ferido e tal ferida não cicatrizou

Não sou normal, sou mente endoidecida
E a arte nunca mais me apaixonou
Dos dias de verão, guardei o sol no bolso esquerdo
Pra ver lembrar junto ao meu coração
Dos dias frios de uma primavera me livrei
E hoje vivo de pedir perdão
O tempo há de me fazer entender
A sôfrega palavra de teus mantras
Abrolha num varal de concordâncias

Sofríveis poesias de cristal
E antes que eu me esqueça, vou partir pro outro lado
Levando o meu pecado para o umbral
Deixando toda a agonia fora
E acasalando com a solidão
Eu pego minha mochila, coloco na viola
E vou cantarolando uma canção
Contudo, sobre a mesa está o festim
Jantado pelos mortos canibais
Que se alimentam de esperança até da vida o fim

E me conhecem de outros carnavais
Prudências espalhadas pelas ruas
Conselhos não ouvidos de um amigo
E as cores murchas hoje todas nuas
E eu querendo ser o seu castigo
E as velas cadavéricas no sol
Flutuam como se fossem dizer
Que a luz que ilumina teu farol
Acaba de criar o escurecer

Quaisquer detalhes bordados na história
Hoje não fazem mal a mais ninguém
Venceram a batalha e tem vitória
Mas querem dominar o que faz bem
Esferas acoimadas te adjuram
Por ser o cara mais feliz do mundo
E as vidas fazem morte um bom dilema
E eu acordo do meu sonho profundo

E vejo as coisas realmente como elas são
E noto as diferenças entre a realidade e o vão
Na beira do sorriso eu agradeço
E digo obrigado por merecer
A dor de ter vivido intensamente
Até o dia que for pra eu morrer