[Bolchevik] Na calada da noite a injustiça segue plena Contrabando tá quebrando o silêncio da cena Um graffiti na parede é um grito de resistência Através do rap busco minha reexistência Sentado aqui no topo do morro da desgraça Analiso o tom preciso da miséria que se passa Quem mais quer tá no topo se cala frente à desgraça Por isso que essa cena nunca saiu da desgraça O silêncio de vocês incomoda (incomoda) O que a polícia fez incomoda (incomoda) O presidente de vocês tá na sola da minha bota Isso é Contrabando Lírico na contramão da moda! Num estado de espírito que vem causar a revolta Do povo que se fode porque nunca se revolta Bolchevik veio peitar o verme que tu vota A cara do capeta contra a sola da minha bota Se eu prego agressão? Não. Quanta demência Só parte pra agressão quem perde na inteligência Eu não vou sair na mão, não importa o que tu pensa Mas onde houver opressão sempre haverá resistência Um caráter fétido, pérfido Verme antiético, teu perfil é péssimo À tua filosofia eu nunca serei adepto E quanto à tua honestidade, eu permaneço cético Fardado que humilha inocente Pra mim sempre vai ser inimigo Amigo que não te defende Pra mim sempre vai ser inimigo Um rico com terras extensas Pra cada mil pobres buscando abrigo Na pátria armada, quem fala o que pensa Tá sempre correndo perigo [Cadete MC] Mas quem abre uma escola fecha uma prisão Só que aqui os valores são invertidos Quem sai do crime e quer vencer pela sua arte Pra esses vermes de farda continua bandido Pra eles qualquer preto serve como alvo Por isso na favela dona Ana tá de luto Lendo a lei que ampara esse Estado Descobre que o direito à vida nunca é absoluto Pena de morte já que a guerra é declarada Quem dá proteção tá pronto pra te matar Sou de um lugar que o filho chora e a mãe nem vê Vencer na vida é ser o vilão que eles ama odiar Eu fico puto, mas esse é o Brasil Onde 80 tiros é só uma advertência Um guarda-chuva é confundido com fuzil E a lei do sexagenário é a regressão da previdência Quem dera se essa vida fosse uma noite de crime Eu seria James Bond em 007 Já que a virada do ano lembra a ditadura Vou matar teu Dutra com uma 24/7 Pra quê calar nossos poetas? Me diz se é crime alguém falar da sua dor? 500 anos e a história ainda se repete Um mesmo povo marcado punido pelo feitor Cês podem repreender Mas não vão nos calar Prendem o corpo, a mente é livre Não entra algema Tudo vira letra, vivência Realidade é uma gota de sangue em cada poema São rimas, versos e batidas Que o mesmo que mira é o mesmo que atira Um pombo sem asa E uma criança de farda E tu quer que eu acredite em bala perdida? [Boyka MC] Quanto sangue escorre na pista? Quanto sangue escreve racista? Quanto sangue escreve machista? O povo chora implorando ajuda Não querem teu salvador, precisam do liricista! Nessa cidade eu me tornei necessidade Por pregar liberdade de expressão Sou expressão de liberdade Não posso viver do sonho, e sim da frustração Bolchevik, essa cena também me incomoda Me falaram que sonhar é em vão Pai disse para botar os pés no chão Muito pelo o contrário, eu boto dois pés na porta Bem vindo à sociedade que te priva de ter ideais Onde repressão interfere em rodas culturais Devem se atentar Pois a cada 35 mortes causadas por policiais 1 é porque bandido bom é bandido morto E as outras 34 são tiros acidentais Confundiu, ou é oito ou é oitenta, ódio no peito que arde Quantos Evaldo Rosa dos Santos vão morrer até o final dessa frase? Gentilli, mas agora é tarde Mais um pai de família, mais um funeral País racista, onde jovem negro é assassinado pela pureza racial Você acha isso legal? Ter uma nação baseada na inferiorização Mas o que se esperar do último país ocidental a abolir a escravidão? Então, te reveste de emponderamento E veja o solo que nos deste o conhecimento Mude o que já disseste desses poetas Repletos de sentimentos E olhe para o Nordeste e verás Que a invisibilidade ofusca muitos talentos A caneta mais lírica da Atenas brasileira Contrabando chegou! Veio pra trazer mudança, então vigie suas fronteiras Isso é Maranhão na cena! [Ítalo Slim] Grito do gueto é balbúrdia, meu truta Manifestação cultural é escândalo Elite quer arma: Exemplo de conduta E poeta que é preto: Taxado de vândalo Justiça do Estado, eu chamo de Pilatos Lava as mãos, não promove a paz Condena quem veio trazer salvação E todo dia livra um Barrabás Quem disse que acabou a escravidão? Não tem noção do que nos aguarda Navio negreiro virou camburão E senhor do engenho tá usando farda Se a farda souber que isso é pra mudar o mundo E tirar minha coroa dessa vida dura Nunca que me chamaria vagabundo Nem me espancaria nessa viatura A maior batalha é longe das rodas O duelo é sistema versus a favela Flow é como se comporta e se resiste Com a lei de plateia fazendo panela Justiça carrega espada e balança Pesa seu pecado e decepa sem pena Grana pesa menos que qualquer inocência Ah, se ela visse quem ela condena Espírito livre e as mãos na algema O medo é morrer aqui sem ninguém Choro pois lembro logo lá da mãe Senhor, eu sou tudo que essa mulher tem! Vermes e leões nesse ecossistema Sempre é alvo de morte quem sabe demais E eu nasci no crime de ser poeta Muita ameaça pra Vinícius de Moraes! Pai [Amanda Layna] Pai nosso, que estás no céu Essa oração vem das mães pretas Que choram ao relento, torcendo Que seu filho não morra onde esteja Brasil racista Compra sêmen no exterior, apaga a etnia Embranquece a pele retinta País miscigenado provoca eugenia Gritos em manifesto, guerra interminável Policial com distintivo disfarçado de senhor Injuriando a perifa numa viatura Carregando mais um preto gritando de dor Ironia é se sentir protegida por traficante Onde quem é pra defender, só ataca Sobe na favela atirando em criança E a bala, que não é tão perdida, nos acha Peço resistência ao sangue derramado Apartheid não exilou só o forte Mandela Em nome do Pai dos dominantes fardados Que foram jogados do quilombo para as favelas Essa é por Rafael Braga, Eduarda Zumbi, Dandara e por cada batalha Que pelo sistema são silenciados Presos ou mortos, e nem fazem nada E foram feitas todas as vontades Criminalizaram perifas e são covardes Não, não vou chorar assim no céu como na terra Olhar o sangue das minas por cada viela! Por mais uma viela! Por mais uma viela! Que não seja assim, são seres humanos Jorrando sangue dos meus manos Pai, nos protegei! Eles querem o sangue dos meus manos! [Hades MC] Essa revolta é mil vezes pior que todas que cê já viu Serviçais reféns, troca o refil ou então refaz Na mente de gente como a gente eles aplicam Botam o berro na minha cara e querem que eu vomite paz País onde mais se mata negro, LGBT, mulher e quem se recusa aceitar padrões Pois ter ideologia própria é errado, certo é abaixar a cabeça e tomar esporro dos patrões Porra! Cidades do pecado, Sodoma e Gomorra Pra quem quer que eu morra só dou uma tentativa Plantei minha militância e coloquei nas folhas Resistência, igual rap raíz, sou árvore da vida Taxaram de vagabundo os que salvaram almas Me armo de livros e livro os irmãos de usar arma Tá na marginal é karma, mas meu povo é livre Pois passar informação foi nosso único crime Isso é por Zook e pelo 1198 Repressão é mato, taco fogo e piso em cima Corrijo ditados O diabo não usa Prada, ele usa terno e gravata e se diz ser o novo Messias Mano, se policia, veja quem tu põe lá em cima Festa open-bar pra eles é ver nosso sangue jorrar nas notícias Note que o ciclo é vicioso Falta pra educação e até sobra se for pra pagar a mílicia Até hoje, condição é viver na merda Essa situ me irrita tipo pergunta retórica Roubam dinheiro público, aumentam a dívida interna Roubo a cena e boto a quebra, cobrando a dívida histórica Como não enxergar algo que tá na cara? Cara, eles só querem que a favela entre em coma Ou você toma atitude e começa a votar direito Ou um zero a esquerda da direta pega seus direito e toma!