Quem mandou pintar O céu, assim, de branco E a Lagoa, de prateado? Quem chamou as nuvens Que formaram um bando E esconderam o Corcovado? Nesses dias sem cor no Rio Sem seus amarelos, sem seus azuis Será que em mim também reduz a luz E nos dias assim fico mais pálido? Quem deixou o mar amanhecer grisalho E pôs, no Sol, o marfim da Lua? Quem soprou o vento que chegou calado Mas fez sumir o Pão de Açúcar? Nesses dias sem cor no Rio Sem os seus laranjas, sem seus dourados Será que em mim O fogo é bem mais fraco? Ou jamais me apago nem se vem chuva? Nem faz frio hoje no Rio É só mais um dia nublado Mas sou carioca e por isso eu tiro O meu casaco do armário Quem botou na praia areia cor de terra E, dessas moças, tirou o bronze? Quem borrou os tons Mais vivos da favela E as Cagarras, no horizonte? Nesses dias sem cor no Rio Sem suas turquesas, sem rosas-choque Será que sei viver sem holofotes? Ou minha energia também se esconde? Quem lavou as matas Num verde guache aguado E desbotou as amendoeiras? Quem que trouxe o cinza Made in São Paulo E o apresentou à Madureira? Nesses dias sem cor no Rio Sem os seus vermelhos Sem seus castanhos Descubro um Rio Que ainda está brilhando Que é tão lindo a cores Como em preto e branco Nem faz frio hoje no Rio É só mais um dia nublado Mas sou carioca e por isso eu tiro O meu casaco do armário