O nome dele é Assim foi registrado Um, Dois, Três de Oliveira Quatro Ninguém sabe bem ao certo Como o pai deu essa graça Talvez por ser analfabeto Ou tava cheio de cachaça Na infância pobre Nada que incomode Mas depois vai ser Um cidadão Trabalhador Quem sabe até Virar doutor Sempre lutou com fé A vida foi difícil No sertão, um sacrifício Capinava lá na roça Toda noite ia estudar E tudo sempre a mesma bosta Nem tinha tempo pra sonhar Mas teve uma chance Na cidade grande E hoje tem que ver O cidadão Venceu na vida Tem casa própria Família linda É de cabeça em pé Que vive e trabalha Mas ainda tem aquele trauma A carteira de trabalho O CPF e o RG Carregam o nome engraçado Que sempre tenta esconder Quando se apresenta Outro nome inventa Pra não parecer Um cidadão Que não é sério Um Zé-ninguém Pé-de-chinelo Se uma pessoa quer E o nome é esquisito Pode, sim, mudar seu registro Ele então vai à Justiça E tira novos documentos Exceto o de motorista Que vai vencer só em dezembro Tá feliz da vida Com mais autoestima Já pode dizer Sou cidadão Homem decente E agora tem Nome de gente Sempre achou José Um nome tão bonito E o escolheu como o de batismo Só amigos mais chegados Sabem desse seu segredo Alguns às vezes tiram sarro E fazem o 4 com os dedos Ele sofre muito Fere o seu orgulho Dá pra entender O cidadão De onde veio A sua história Merece respeito Os filhos e a mulher Dizem que depois disso Ele dá muito mais sorrisos Nunca mais teve problema Em mostrar sua identidade Até chegar o dia triste Pararam ele numa Blitz Ordem do Sargento Mostra os documentos! E ele foi dizer Sou cidadão Não vou mostrar Porra nenhuma! Sabe cumé que é Polícia perde a linha Se alguém vem dando respostinha Ainda mais se a criatura É preto, pobre e tá num Fusca Vão lá pra trás da viatura E o pau comeu naquela dura José pede ajuda Foge pela Dutra Pra quê foi correr? O cidadão Foi fuzilado Não só um tiro Um, dois, três, quatro