Clara Noite

Desconstrução

Clara Noite


Todo dia ela se faz na ida e se perde na volta
Todo dia ela se esvai

Deixando os seus pés na porta
Suas pernas na poltrona da quina da casa
O seu sexo no trinco
Seus seios no vazo
Sua cor e lábios na água corrente da torneira
Todo dia ela se perde em rastros

E eu me refaço, sigo juntando os seus cacos
Todos os pedaços
Unindo as peças dispersas
Pra que novamente ela possa ser ela

Escolhe suas pernas no armário vasto
Cheio daqueles rastros
Turbina o seu busto com o maior dos bojos
Aquele que a mim seduz

Pinta-se, colore-se, delineia os seus lábios
Em tons de vermelho fosco
Faz da orelha uma alegoria
Rouba o cheiro da noite

Cobre, descobre-se
Num movimento contínuo
Manejando a melhor das sedas lisas e floridas
Forja a sua cor
E num segundo se refaz
Assumindo a forma do meu amor