Ciro Pessoa

Armazém

Ciro Pessoa


Era uma noite estrelada de luar
Os carros passavam em alta velocidade
Sobre a pista negra iluminada pelas luzes de mercúrio
Ela olhou para o relógio no alto da torre
23 horas e 15 minutos
A noite envolvia o cais do porto

Sentados na mesa do bar do armazém 42
Marinheiros lançavam âncoras no infinito
Tatuagens de sereias
Copos de rum e de cerveja
Baforadas de cachimbo
Ela se aproximou e, olhando fixamente para ele
Entoou um canto

Sou sozinha nesse mundo
Vivo solta, sem ninguém
Quero alguém para embalar
Meus sonhos em alto-mar

Ele era a cara do marinheiro Popeye
Ela, os olhos do–
Suas pernas trôpegas pareciam procurar
Por algo que havia perdido (talvez a si mesma)
E flutuavam num espaço aéreo
Tudo muito disperso, tudo muito nublado

Foi então que ela se aproximou
E tentou lhe dizer com a língua
Aquilo que o seu coração já gritava
E veja-o: Era o amor!
E logo ali o mar, o navio e a buzina que parecia falar
É hora de partir!

É, o mar só tem amor pra quem quer navegar!