A idade é um caso sério Como eu tive notano Tudo vai pro cemitério Quando a morte fô chamano Morrê eu também não quero Mas não vivo reclamano Já que a nossa vida é essa Pra morrê não tenho pressa Prefiro ficá esperano Mas no dia que eu morrê Ocêis já tô convidano A data eu não posso sabê Mas sinto que tá chegano Comecei a envelhecê Minha força tá acabano Sei que a vida tá no fim Mas eu vô levando assim Enquanto tivê aguentano Quando eu entro no banheiro No espêio fico oiano Aí dá um desespero De vê meu rosto enrugano Lembro o tempo de sortêro Na idade dos vinte ano Isso nunca vorta mais O tempo deixô pra trás Tem que vivê recordano Conforme a gente envelhece Eu já tive reparano Primeiro a barriga cresce Devagá vai estufano Depois a perna endurece Os zóio vai afundano O que eu acho divertido Que o nariz fica comprido Que nem bico de tucano O rosto pegá a enrugá E o cabelo vai branqueano E o pé começa inchá A orêia espichano Fica surdo pra escutá Muito már vive enxergano O cabelo vai caindo A pressão vive subindo E o couro dependurano Quando eu era mocinho Às vez eu fico lembrano Usava terno de linho Onde eu vivia passeano No borso tinha um lencinho Meu paletó enfeitano Meu sapato reluzindo Trinta e oito, bico fino E com o meu chapéu de pano Camisa de seda pura Era o que eu vivia usano E um par de botoadura Com a camisa combinano Tinha na minha cintura A garrucha de dois cano Nas festinha que eu chegava As mocinha delirava Quando me via cantano Aquele tempo era bão Mas não soube aproveitano Eu era meio tontão Do estudo fui largano Se tivesse estudo bão Hoje eu não tava penano Se eu tivesse estudado Hoje eu era um deputado Tinha dinheiro sobrano E agora com a minha idade Não adianta ir lamentano Foi-se embora a mocidade E a velhice tá chegano Mais quando aperta a saudade Eu não vô ficá chorano Quando a saudade apertá Saio por aí cantá E a mágoa vai se acabano Mas eu conto pro sinhô Que eu não posso ir reclamano Hoje eu sô um cantado E por aí vivo viajano Veio do jeito que eu tô Não que eu teja garganteano Onde eu chego pra cantá Ainda qué me namorá Mocinha de quinze ano Daí eu falo pras mocinha Você vão me descurpano Porque eu tenho uma netinha Que também tem quinze ano Sei que ocêis são bonitinha Acha um moço pra ir casano Delas caio fora cedo Mas depois fico com medo De arguma ir se matano Agora eu quero terminá Esta carreira do ano Pra quem veio me ajudá O Paulete acompanhano Deus que pague em meu lugá Esta noite vai abençoano Por aqui fico parado Pra vocêis muito obrigado Deus que vá lhe acompanhano