No sertão norte mineiro Numa manhã de domingo Alarguei-me do meu rancho Quando o Sol tava saindo Era um tempo de fartura O sertão tava sorrindo Com a espingarda cartucheira Embrenhei-me pela mata Minha diversão preferida Nesse tempo era a caçada Mas o destino me deu Uma passagem amargurada No alto de uma aroeira Um guariba apareceu e Fazendo que nem gente Ela a mama espremeu Do seu corpo apavorado Leite de mãe escorreu Não entendi que esse gesto Foi pra eu aperceber Com um tiro de espingarda Fiz seu corpo estremecer Quando ela bateu no chão É que eu fui compreender Um choro de bicho menino Lá de cima, eu escutei Meus olhos se encheram d'água No momento em que avistei Um filhotinho chorando A maezinha que matei Tomei o bichinho no colo Chorei por minha maldade Levei ele pro meu rancho Tinha só uns três dias de idade O meu remorso maior É ter sua inocente amizade Toda vez que olho pra ele Sinto o peito magoado Já pedi ao Senhor do Céu Pra que eu fosse perdoado De caçador hoje sou caça Dum triste passado Se algum dia eu caçar Será por causa da fome A feita da mãe guariba Da minha mente não some Dizem que os bichos não pensam Mas quem diz isso é o homem