Puto reguila do sorriso tão travesso Que enches de vida cada rua da cidade Lisboa é tua, e cada dia é o começo Dessa aventura em que o tempo ganha idade Puto reguila do cabelo em desalinho Que roubas fruta no mercado da Ribeira Se tu pudesses roubavas também carinho Que repartias pela malta mais porreira Puto reguila que és gaivota e cacilheiro Irmão do vento, irmão da chuva, irmão do Tejo Dão-te uma esmola a muito custo, e o dinheiro Não mata a fome, mata apenas o desejo Puto reguila, andorinha sem beiral A flor da vida com se enfeita o Rossio Tens como cama, a tua raiva e um jornal De letras mortas que não dão calor ao frio Puto reguila da coragem transparente Quanta porrada tens no teu corpo franzino Cresces depressa, tão depressa, e de repente Mora um adulto no teu rosto de menino