Chico Livino

Teve Fuá No Chiqueiro

Chico Livino


Teve fuá no chiqueiro
Tem muito bode no chão
Foi coisa feia o piseiro
Coisa de arte com o cão
Coisa de unha e de dente
Rastro de sangue é a prova
Contra as defesas da gente
A sombra da Lua nova

Dezesseis unhas punhais
Caninos, lanças certeiras
Os pelos de palha seca
Disfarce de feiticeira
Sertão sem fim seu reinado
E o cangaceiro a respeita
No leito seco passou
Na loca escura se deita

Suçuarana rondou
Lá nas barrancas do rio
O tronco do angico marcou
Deixando as garras no fio
A dinastia honrou
E o sertão segue sua lida
Cada caçada precisa
Mantém o equilíbrio da vida

São vinte unhas pincéis
As pernas, perfeita escultura
Olhar de animal de rapina
Cabelos negros, noite escura
Exerces em mim seu reinado
Tua pele tem o que me deleita
O vento da noite esfriou
Na cama quente se deita

Onça morena rondou
Deixando o quarto bravio
Teu território marcou
Com as garras de onça no cio
Servo, me rendo à nobreza
E à minha Deusa me entrego
Cada caçada precisa
Asas que erguem o meu ego