Cansado da luta insana Da violência urbana Que me causa tanto mal Ajeitei na velha tralha Canivete, fumo e palha E coloquei no embornal Tentando mudar de vida Numa viagem só de ida Fui buscar paz no sertão Meu diploma de doutor Rasguei pra ser pescador De caçador de ilusão Nessa nova empreitada Levei linha importada E anzol norueguês Levei um feixe de vara E um samburá de taquara Que o velho Angelim me fez Eu saí cortando asfalto Joguei a vida pro alto Nem olhava para trás Sem camisa, peito aberto Pensei, se tudo der certo Eu não volto nunca mais A mente vagando à esmo Pensando comigo mesmo Tá faltando muito pouco O vento roçou meu rosto Já estava sentindo o gosto Da vidinha de caboclo Ao chegar no santuário Vi o segundo calvário E chorei neste momento A natureza encantada À morte foi condenada Sem direito a julgamento Seguindo a lei do mais forte A cruel pena de morte Dizimou os mananciais Por ganância de riqueza O manto da natureza Deu lugar aos canaviais Numa operação de guerra Os falsos donos da terra Fizeram a destruição Transformando num deserto O que Deus nosso arquiteto Fez com suas próprias mãos Sentei no chão abatido Coração desiludido Nem bater queria mais Na minha opinião sincera Chamar os homens de fera É ferir os animais Eu pensei inconformado Esse é o pior pecado Que o homem já cometeu Na cega busca do ouro Ele rega seu tesouro Com as lágrimas de Deus