César Oliveira

Poema a Moça da Janela

César Oliveira


Morena, quando te vejo
Palanqueada na janela
Fico floreando a barbela
Mordendo a perna do freio
E desinquieto pateio
Enredado nesse olhar
Sou pingo do teu andar
A carregar teus anseios

E quando um sorriso esboças
Carregado de promessas
É o próprio céu às avessas
Com tormentas e lampejos
E um temporal de desejos
Vem respingar no meu toso
Levando um rosto mimoso
Junto aos meus sonhos andejos

Noite alta, quando cruzo
Nesse rancho onde te abrigas
Da alma vertem cantigas
Rastreando rimas de prata
O coração bate patas
Corretiando o Deus dará
E a janela ali está
Como a pedir serenata

Guitarreia o meu silêncio
Em muda e louca seresta
Na janela, em cada fresta
Mil ouvidos a me escutar
Por certo estás a sonhar
Alma leve, solta ao vento
Eu queria estar aí dentro
Para te ouvir ressonar

Amanhã, um outro dia
Andarei longe da querência
Reculutando uma ausência
Que ficou de sentinela
Quero ver os olhos dela
Quando retornar do povo
E lá estará a moça de novo
Na moldura da janela