Num apartamento chique Entre cortinas bordadas Numa gaiola de ouro Toda de pedra enfeitada Sabiá cantava triste Parecia uma toada Mas veio a recordação De um pedacinho de chão Onde foi minha morada Me veio no pensamento A campina perfumada O repique de um berrante O grito da peãozada Latido do meu cachorro No trevo da encruzilhada O mangueirão de madeira O rangido da porteira O chegar de uma boiada O sertão cheio de poeira A montanha enfumaçada O carro de boi gemendo Seguindo a longa estrada O eco da cachoeira O cantar da passarada Os pantaneiros berrando Os cuitelinhos beijando As flores desabrochadas A lagoa cristalina Entre ondas prateadas Naquelas águas serenas Vi minha vida estampada Meus cabelos quase brancos A face toda enrugada Nesse momento tirano Compreendi que estou chegando Na derradeira morada