Cezar e Paulinho

Velho Peão

Cezar e Paulinho


Levantei-me um dia cedo sentei na cama chorando
Meu velho tempo de peão nervoso eu fiquei lembrando
Senti uma dor no peito igual brasa me queimando
Ouvi uma voz lá fora parece que me chamando
Eu tive um pressentimento, que a morte na voz do vento
Ali estava me rondando

Eu saí lá pro terreiro lembrei nas glórias passadas
Me vi montado num potro correndo nas invernadas
Também vi um lenço acenando de alguém que foi minha amada
Que a muito se despediu para derradeira morada
Tive um desgosto medonho, ao ver que tudo era um sonho
E hoje não sou mais nada

Pobre de quem nesta vida na velhice não pensou
Ao me ver velho e doente um filho me amparou
Recebo tantas indiretas da nora que não gostou
E meu netinho inocente chorando já me falou
A mamãe já deu estrilo, diz que aqui não é asilo
Mas eu gosto do senhor

Neste meu rosto cansado queimado pelo mormaço
Duas lágrimas correram espelho do meu fracasso
É o prêmio de quem na vida não quis acertar os passos
Abri os olhos muito tarde quando eu já era um bagaço
Vejam só a situação aí, de quem foi o rei dos peões
Hoje não pode com o laço

A Deus eu fiz uma prece pedindo pros companheiros
Que perdoem todas as faltas deste peão velho estradeiro
Quando eu partir deste mundo meu pedido derradeiro
Desejo ser enterrado na sombra de um anjiqueiro
Pra ouvir de quando em quando, as boiadas ali passando
E os gritos dos boiadeiros