Marruêro, eu sou marruêro! Nacendo, cumo tinguí Fui ruim, cumo piranha Mais pió que sucuri Pixúna daquelas banda Véve a gente a campiá! Deus fez o hôme, marruêro Pra vivê sempre a lutá Meu pai foi bixo timive E eu fui timive tômbém! O pinto já sáe do ovo Cum a pinta que o galo tem Se meu pai foi marruêro Havéra de eu tá na toca A rapá no caitetú A massa da mandioca? Bebedô de madureba Pissuindo carne e caroço Eu nunca vi cabra macho Que me fizesse sobrôçol Nunca drumi uma noite Imbaxo de tejupá! Nací pra vivê nas gróta Pra vivê nos mócôsá Pra drumi longe dos rancho Prú-ríba duns gravatá Vendo a Lua pulas fôia D’um férmoso iriribá! Nos gaios da umarizêra O canta do sanhassú Na boca triste da noite O gimido da inhabú E as tuada da cabôca Lavando não’água do rio E os canto, prú via dela Nos samba nos disafio Nada disso, não, marruêro Me dava sastifação Cumo o mugido bravio Dos valente barbatão! Nada fazia, marruêro O coração me pulá Cumo uvi pulas varjóta Os berro dos marruá! Na paz de Deus eu vivia Nos brêdo dos matagá Tocando a minha viola Só pra meu gado iscutá Lá, prás banda onde eu naci Já se falava do amô Todas as boca dixia Que era farso e matadô! Mas porém, fui trazantonte No samba do Zé Benito Que eu panhei uma chifrada Que me deu esse mardito! Nas marvadage do Amô Não hai cabra que não caia Quando o diabo tira a roupa Tira o chifre e tira o rabo Pra se vistí c’uma sáia! Se adisfoiando no samba Cantando uma alouvação Eu vi a frô dos cabórge Das morena do sertão! Trazia dento dos óio Istrépe e mé, cumo a abêia! Oiôu-me cumo uma onça! E, ao despois, cumo uma ovêia! Aqueles óio xingôso Eu confesso a vasmincê Ruia a gente prú dento Que nem dois caxinguêlê! Sem mardade, um bêjo dado Naquela boca orvaiada Havéra de tê, marruêro O chêro das madrugada! A fala dela, marruêro Era o gemê do regato Que vai bêjando as fôiáge Que cái da boca dos mato! As duas rola morena Prú baxo do cabeção Trimia, cumo a água fresca Quando o vento bêja as água Das lagoa do sertão! Pruquê os dois peito alembrava Dois maduro cajá-manga E a boca, toda vremeia Parecia uma pitanga Chêrava as mão da cabôca Cumo os verde maturi! Era taliquá, marruêro Dois ninho de jurutí! Os pezinho da curumba Quando dançava o baião Parecia dois pombinho A mariscá pulo chão Eu me alembro, a saia dela Cô das pena da irerê Tinha a sôdade dos mato Quando vai anoitecê!! Aqueles braço de fogo (Deus não me castigue, não!) Quêmava, cumo as fuguêra Das noite de São João! Marruêro! Os cabelo dela Tinha o calô naturá Da pomba virge dos mato Quando cumeça a aninhá! Apois, os cabelo dela Tão preto prô chão caia Que toda a frô que butava Nos cabelo, a frô murchava Pensando que anoitecia! O suó que ela suava No samba, chêrava tanto Que inté a gente sintia Um chêro de ingreja nova Um chêro de dia santo! As anca, as cadêra dela Surrupiando no coco Toda a se tamborilá A móde que parecia O xaquaiá de uma onda Que vem jupiando, redonda Na praia se derramá! Japiaçóca dos brejo No arrastado do rojão Cantava cum tanta mágua Cum tanto amô e paxão Que ispaiava, no terrêro O ôrôma do coração! O coração das viola Aparava, de mansinho Se os dois fióte de rola Quando ela táva sambando Pulava fora do ninho! Entonce, aqueles dois óio Sereno, cumo o luá Vinha pra riba da gente Taliquá dois marruá Intrava dento da gente Cumo duas zelação! Mas porém, a gente via No fundo daqueles óio A hora da Ave-Maria Gemendo nas corda fria Das viola do sertão! Prú móde daqueles óio Dois marvado mucuim Um violêro, afulémado Partiu pra riba de mim! Temperei minha viola Intrei logo a puntiá E ambos os dois se peguémo Num disafio, ao luá! Premití a Santo Antônio Se eu vencesse o cantandô De infeitá o seu fiínho Cum um ramaiête de frô!! Só despois que nestas corda Fiz pinto cessá xerém Vi que o bichão se chamava — Manué Joaquim do Muquêm! Manué Joaquim era um cabra Naturá de Piancó! Quando gimia no pinho Chorava, cumo um jaó! Eu, marruêro, arrespundia Nestas corda de quandú E os acalanto se abria Cumo as frô do imbiruçú! Foi despois do disafio Quando eu saí vencedô Que os canto e os gemê dos pinho Não’um turumbamba acabou! Imquanto nós dois cantava Sem ninguém tê dado fé Tinha fugido a cabôca Cum o Pedro Cahitoré! Tinha fugido a curumba Cum aquele bóde ronhêro Um tocadô de pandêro E runfadô de zabumba! Tinha fugido, marruêro Aquela frô dos meus ai Cumo uma istrela que foge Sem se sabê pra onde vai! Na luz do Só, que acordava Lá, no coró do Nacente A móde que Deus, contente Cum a natureza sonhava! O canto alegre dos galo Nos capoerão amiudava! Nos taquará das lagôa As saracúra cantava! Alegre, passava um bando Das verde maracanã! Formosa, cumo a cabôca Vinha rompendo a minhã! O vento manso da serra Vinha acordando os caminho! Vinha das mata chêrosa Um chêro de passarinho! Lá, no fundão d’uma gróta Adonde um córgo gimia Gargaiava as siriêma Cum o fresco nacê do dia! Uma araponga, atrépada Não’um braço de mato, im frô Gritava, cumo si fosse Os grito da minha dô!! E a sabiá, lá nos gaio Da tabibúia, serena Trinava, cumo si fosse Uma viola de pena! Um passarinho inxirido Mardosamente iscundido Nas fôia de um tamburi Sastifeito, mangofando De mim se ria, gritando Lá de longe: Bem te vi Chegando na incruziada Despois do dia rompê Sipurtei o meu segredo Não’um véio tronco de ipê! Dênde essa hora, inté hoje Eu conto as hora, a pená! Eu vórto a sê marruêro! Vou vivê cum os marruá! Eu tinha o corpo fechado Pra tudo o que é marvadez! Só de surúcucútinga Eu fui murdido três vez! Tândo cum o corpo fechado Prás feitiçage do Amô Pensei que eu tava curado! Dos marruá mais bravio Que nos grotão derribei Munta chifrada penosa Munta marrada eu levei!! Pra riba de mim, Deus póde Mandá o que êle quisé! O mundo é grande, marruêro! Grande é o amô! Grande é a fé! Grande é o pudê de Maria Ispôsa de São José! O Diabo, o Anjo mardito Foi grande! Cumo inda é! Mas porém, nada é mais grande Mais grande que Deus inté Que uma chifrada, marruêro Dos óio d’uma muié!