Não há guarda-chuva contra o poema Não há guarda-chuva contra o amor Não há guarda-chuva contra o tédio Não há guarda-chuva contra o mundo Não há guarda-chuva contra o tempo Não há guarda-chuva contra a noite Não há guarda-chuva contra a ameaça Se vem vindo forte a tempestade Perco o medo Enfrento a fera Eu sei quem é ela, com essa minha tira na vontade Regiões onde tudo é surpresa Como uma flor mesmo num canteiro Que mastiga, que cospe como qualquer boca Que tritura como um desastre O tédio das quatro paredes O tédio das quatro estações Cada dia devorado nos jornais No tédio dos quatro pontos cardeais Não há guarda-chuva contra as filas Feito serpentes pelas calçadas Não há guarda-chuva para as crianças, pivetes, menores, abandonadas Não há guarda-chuva contra o veneno, o despeito do ser humano Não é à toa, pros inimigo Sou urtiga, sorrindo é que se castiga Sou paraibana de tutano Não há guarda-chuva contra a simpatia Se ela nos pega desprevenido Deixa a gente abobalhada dizendo coisas sem sentido Não há guarda-chuva contra a covardia, de erguer a cabeça ao menos por um dia Se você tem alma de borracha, munheca um pouco flácida Não ouça o que eu digo