O que eu não mostro é que Sou incapaz de cuidar de cuidar de mim Eu me destruo um tanto e sim Você faz falta Só tomo banho pra sair Eu nem recolho o lixo e sim Há tanto entulho em casa que não trago ninguém Sóbrio, encaro a tristeza A solidão machuca, e eu não revido Sabes que eu tenho certeza Vou estar na mesma, daqui há 30 anos, velho frustrado Já não aguento sofrer calado Eu desabafo com desconhecidos Não quero entristecer meus amigos Eu me isolo, me maltrato Não tenho forças, peço cuidados Eu sou pesado, eu contagio Eu choro sangue Eu me vicio em sofrer Motivos não me faltam Você fez bem, pulou do barco a tempo A minha médica diz que eu sou chato Os meus remédios já são tão fracos Eu minto tanto, nessas consultas O que eu quero é perder a luta Me interna, me deixa dopado Já não funciona estar chapado O mar me chama bem pro fundo Eu sinto o vento e penso em tudo Minha mãe chorando, é o mais difícil Eu tento não pensar tanto nisso E os meus amigos traumatizados Mas não surpresos Foram avisados Mas nunca há nada a fazer sobre Já não consigo ter controle Há um lado da depressão que ninguém romantiza Na lixeira da minha cozinha só tem borras de café Eu não me alimento há dias Eu me sinto num desses realitys de acumuladores americanos Eu uso a mesma roupa a semana inteira Não bebo água Eu tenho vergonha do estado em que me encontro O corpo responde, é inevitável Às vezes sinto como se estivesse morrendo Me conforto e penso que falta pouco